A cobardia, nos dias de hoje, desilude-me.
Já se cresceu, já sabemos mais e melhor. Espera-se.
Entendo por cobardia a escolha consciente de fugir da culpa, do admitir que se errou, que se magoou e mesmo que da coragem não advenha o perdão, o recuar no tempo, o voltar ao antes do erro, mesmo assim… escolher a honestidade. Encher o peito de ar e oferecer só a verdade. Sem ornamentos, sem ego, sem meios que justifiquem o fim. Sem que a verdade seja um suspiro encurralado ou uma suspeita que, sem querer, viu a luz do dia.
Aparece despida e vestida de culpa, anuncia a má notícia com a falta de prevenção. Porque a consciência pesa a alma, faz crescer a empatia pelo outro e quer viver livre.
Mesmo que o futuro morra. Abraça-se a consequência, beija-se a dor, ouve-se o grito, chora-se a desilusão.
O recomeçar enterra o que até ali se sabia.

Desilude-me, nos dias de hoje, que se fuja, como se foge da frente de uma batalha. Não que seja cobarde aquele que à guerra vira costas, pelo contrário. Escolher viver é, também nos dias de hoje, um grande ato de coragem. Escolher as batalhas próprias e não as dos outros, definidas pelo poder, por marcos territoriais imaginários e pela morte. Acreditar que existe mais e melhor, quando o caminho se faz entre fumo e destroços, a caminho de fumos menos densos e destroços mais inteiros. Sem se saber o que vem depois da curva, se há mais caminho, e se houver se será mais feliz. Acreditar é querer viver.

Desilude-me que se escolha ser cobarde quando se segura um saco com palavras, ações, sentimentos. Talvez seja a cobardia uma extensão do egoísmo, da mentira que se conta ao próprio. Tantas vezes, que quase se torna a verdade. A verdade de quem a memória vem falhando, e a quem a verdade pura e dura dói.

Perdoar dá-nos uma oportunidade para que sejamos livres.
Perdoemos os cobardes de hoje e os de amanhã.
Sejamos livres corajosos.

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