As pessoas que nos são mais próximas, são as que menos momentos de qualidade vamos partilhar. Momentos e tempo, em geral.

As pessoas que nos são mais próximas, são as que seguram o barco quando nos ausentamos. São as cuidam dos nossos animais, bebés, plantas e correios. Não são as que sempre vão connosco.

Reconheço este feito da vida com tristeza. Sabendo que já vi mais filmes com um estranho ao lado (nos aviões, comboios e autocarros) do que com a minha mãe. Por exemplo.

São mais as vezes que partilho fileiras com estranhos do que com alguma das minhas irmãs. São mais as vezes que viajo com estranhos, que conheço estranhos em viagem, que partilho noitadas e idas a praias paradisíacas do que com as amigas chegadas. Aliás, e este é um fenómeno que me causa estranheza, dou por mim a partilhar os meus mais profundos medos e sonhos com estranhos e não com quem me acompanha há décadas. Há qualquer coisa no desconhecido, de eles não saberem de quem falo ou quem sou, que permite que as barreiras caiam. É estranho. Umas vezes os conselhos encaixam, outras vezes não, algumas vezes percebem as minhas entrelinhas, conectamos de imediato, outras vezes não nos entendemos. Todos os estranhos são estranhamente diferentes.

Tenho em mim que o ciclo mais próximo de nós serve um propósito, para a vida toda quem sabe, mas é também quem mais perde. São os alicerces de betão, os pilares desta difícil operação que é ser-se humano.

São os que estão sempre, não importando o rumo que a vida levará. São quem nos vê partilhar momentos de lazer com outros que talvez nunca venham a conhecer. Vêem-nos ser de outros alguéns, mas só pela metade. Ou no todo daquele momento passageiro. E nós vemo-los também, a viver a vida enquanto lhes seguramos a casa.

Dou por mim a querer trocar os lugares, a querer que os estranhos sejam os amigos de sempre e os de sempre sejam estranhos. Para que os estranhos tomem conta dos meus animais, bebés, plantas e correios enquanto os de sempre e eu continuamos a escrever o livro de histórias que pausou quando virámos adultos.

Talvez quando a vida adulta amainar nos voltemos a encontrar… ao mesmo tempo no mesmo tempo e a dar-nos tempo de sobra.

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