Quanto tempo? 2 Semanas
Quantos estados? Seis (New York, Ohio, Nevada, Utah, Arizona, Califórnia)
Quanto custou? $3.818 (duas pessoas)

A vontade de pisar a route 66, “the main street of America”, é um desejo escondido desde que emigrei para os Estados Unidos da América, em 2016. Porém, quis o destino, a falta de tempo e dinheiro, que tal não acontecesse enquanto lá residi permanentemente. Foi apenas no Inverno de 2020 que, aborrecida de estar pandemicamente enclausurada, equacionei passar a virada do ano perdida pela costa Oeste americana.
Abri o website da Momondo e marquei viagem para Nova Iorque para o dia 26 de Dezembro (para além das viagens estarem ao preço da chuva, a minha companheira de viagem também estava por Nova Iorque). Marquei também um teste PCR, obrigatório para viajar e que me custou cem euros por ser particular, e preenchi o formulário de saúde online para verificação nos EUA. Uma vez que, atravessamos uma pandemia e vários países ainda se encontram com as fronteiras encerradas, só me foi possível embarcar nesta aventura porque sou americana, de outra forma não o poderia ter feito.
Após aterrar repeti o teste à covid-19 o que me ilibou de fazer quarentena obrigatória em NYC.
Passámos a noite em Nova Iorque e na manhã de 27 de Dezembro, acompanhadas de um lox bagel de Tompkins square bagels, conduzimos nove horas até Columbus, OH. Na manhã seguinte voámos para Las Vegas.
(Esta road trip pela costa Oeste norte americana foi programada com bastante antecedência. Na verdade, era para ter sido realizada em Julho de 2020 mas os números de casos covid-19 ativos aumentaram drasticamente nos estados que visitaríamos. O que levou ao encerramento dos parques naturais, marcos históricos e atrações turísticas. No entanto, o roteiro manteve-se: aterrar em Las Vegas, seguir para Utah, Arizona, Joshua Tree, Los Angeles e voltar a Las Vegas).

 

Las Vegas, What happens in Vegas, stays in Vegas

Aterrámos em Las Vegas às 14h52, da janela do avião vê-se o deserto e os desfiladeiros avermelhados. Las Vegas surge no deserto, como se fosse miragem. Recolhemos a mala e dirigimo-nos para a Enterprise, para levantar o carro que reservámos online. O pagamento do aluguer é efetuado no ato de entrega do carro, assinámos os documentos e partimos para a aventura num Jeep Wrangler. (Foi a minha primeira vez dentro de um wrangler, imaginem o entusiasmo!). Após uma paragem obrigatória no In-N-out Burger, seguimos viagem e duas horas depois, a conduzir num deserto anoitecido iluminado pela lua cheia, chegámos a Utah.

Utah, Life Elevated

Em Kanab ficámos duas noites.
Em pleno Inverno, o sol nasce às 06h30 e desaparece às 16h30. Pelo que, para aproveitar todas as horas diurnas, é imperativo madrugar e iniciar viagem antes que o sol nasça.
Utah surge no roteiro pela vontade de explorar o Bryce Canyon e o Zion National Park. No entanto, Utah é de cortar a respiração com os cenários crus e perfeitos que a Natureza oferece. Apesar do frio seco e das temperaturas (muito) negativas, nunca sucumbimos à preguiça matinal. Conduzimos num pré amanhecer escuro e fomos presenteadas com a Natureza no seu estado mais puro e selvagem. Vimos veados e raposas, as cores do alvor e as sombras das montanhas que ganham forma no horizonte, a lua cheia e um céu totalmente estrelado, dividido entre o amanhecer e fim do anoitecer. Onde a lua e o sol se encontram, se cumprimentam e despedem, connosco a testemunhar tamanha excelência.

Bryce Canyon National Park

Explorámos o parque nacional Bryce Canyon, que estava absurdamente bonito com a neve a contornar o seu laranja vibrante. Caminhámos do Sunset point até ao Inspiration point (hikes) e, antes que anoitecesse, visitámos Angels Rest. Um parque memorial para animais de estimação, onde as árvores estão ornamentadas com espanta-espíritos gravados com mensagens e nomes de quem deles sente falta. Foi um momento especial e espiritual: no cume da montanha coberta de neve, com um sol de Inverno a espreitar pelas árvores, a ouvir apenas uma dessintonia perfeita de dezenas de espanta-espíritos. Que bela forma de homenagear quem se ama e se sente saudade.

 


Zion National Park

Para explorar o Zion Park é imprescindível, e obrigatório, garantir um lugar no shuttle. Os bilhetes para o transporte dentro do parque esgotam ultra rápido, uma vez que não é permitido circular ou estacionar fora das zonas permitidas. Aconselho agendar um despertador no dia anterior, para que às 09h00 estejam de telemóvel em punho para comprar os bilhetes (que têm o custo simbólico de $1).

Encontra os bilhetes para o shuttle aqui –> https://www.recreation.gov/ticket/facility/300016

O custo de entrada no Zion Park é de $35, por veículo, e válido por sete dias consecutivos. O parque é gigantesco, e também o mais próximo que alguma vez estive do Jurassic Park. É megalómano, colossal, esplêndido… Oferece vários trilhos, de diferentes dificuldades e é casa de inúmeras espécies de seres vivos.
Infelizmente, dispúnhamos apenas de um dia para o explorar. Conduzimos pelo parque e atravessámos o The Zion-Mount Carmel Tunnel. Um túnel histórico, de 1.8km, que atravessa os penhascos de arenito vermelho e nos presenteia com janelas rochosas, que permite uma vista indescritível do parque.
Explorado o parque, seguimos para Arizona.
Dica: Angels landing hike e Riverwalk trail são afazeres absolutamente obrigatórios.

 

Arizona, The Grand Canyon State

Três noites e dois dias, o tempo que dispúnhamos para conhecer alguns marcos históricos de Arizona. Reservámos hotel em Lake Powell/Page, pelo valor e localização.
Iniciámos o último dia do ano em Horseshoe Bend: o famoso meandro em forma de ferradura de cavalo, localizado no rio Colorado. O custo de entrada é de $10 por veículo.
O amanhecer em Horseshoe Bend é a melhor recomendação que vos dou, ver o sol beijar os desfiladeiros e o contraste do laranja quente com as cores da noite que se despede é inesquecível.
Seguimos caminho para o Monument Valley, que pertence à reserva natural de Navajo e se localiza perto dos “four corners” onde os estados do Arizona, Colorado, Novo México e Utah se encontram.
Infelizmente, devido à pandemia, todos os marcos históricos em terra de Navajo estavam encerrados. (Incluindo o muito cobiçado, e fundo de ecrã Windows XP, Antelope Canyon). Tentámos entrar em Momunent Valley por caminhos travessos e ainda trespassámos propriedade privada, mas sem sucesso. Vi e fotografei de longe, quem sabe um dia!
Compensámos o resto do dia com compras em lojas vintage e thrift. E que bagatelas maravilhosas encontrámos em Williams, Arizona. Uma cidade icónica na route 66, com vários murais, restaurantes e bares que lhe fazem referência. Se no Zion Park me senti figurante do Jurassic Park, em Williams senti-me uma motard mau-feitio! Foi também aqui que festejámos a passagem do ano, jantámos e bebemos sem olhar preços. Afinal, quem não estava desejoso de se despedir de 2020?
Com alguma dificuldade nos levantámos cedo no primeiro dia do ano, mas a curiosidade em pisar o Grand Canyon levou a melhor.
A entrada no Grand Canyon National Park tem o custo de $25 por veículo e válido por sete dias. São vários os pontos de paragem e estacionamento permitido no parque, porque as paisagens são indescritíveis e diferentes em todos os miradouros. Este é o lugar perfeito para se pedir em casamento, ler um poema ou meditar. Senti-me em paz no Grand Canyon, com coragem e vontade para enfrentar o novo ano.

       

 

 

 

 

Califórnia, Eureka!

2 de Janeiro, 2021
Prontas para nos despedirmos do frio, rumámos para Califórnia e seis horas depois… Eureka!
Califórnia entrou no nosso roteiro com Joshua Tree, Los Angeles, San Diego e Malibu. Mas… comecemos pela primeira paragem, e o meu lugar favorito desta road trip: Joshua Tree!
(Dica – A gasolina é bastante mais barata antes de se entrar no deserto, atestem o depósito antes de se fazerem à estrada).
Joshua Tree é uma comunidade localizada no município de San Bernardino, não sendo por isso designada cidade. Esta comunidade acolhe o parque nacional Joshua Tree, localizado no ecossistema do deserto de Mojave e habitat de inúmeros pássaros, mamíferos, insetos e lagartos. Joshua Tree é o nome dado às árvores que crescem, lentamente, no deserto de Mojave, reza a história que estas representam a sobrevivência, resiliência, perseverança e beleza. Encontram-se estas árvores de silhueta peculiar em todo o município, no entanto nada se compara ao fenómeno protegido em Joshua Tree National Park.
A entrada no parque tem o valor de $25 por veículo e é válido por sete dias consecutivos. Está aberto vinte e quatro horas, permite acampar e autocaravanas. Este foi o único parque nacional que usufruímos do passe semanal, porque o visitámos três vezes.
Joshua Tree National Park é incrível a qualquer altura do dia. No entanto, nada se iguala a uma visita ao amanhecer, ao pôr-do-sol e à noite. A palete de cores do amanhecer, do anoitecer e as milhares de estrelas possíveis de contar, permitiu-nos reconectar com a Natureza. Senti “dever cumprido” em Joshua Tree. Todas as horas a conduzir levaram-me ao paraíso. Decidimos passar três noites em Joshua Tree e ainda bem que o fizemos. Aconselho vivamente a explorar o parque natural todos os dias, há incontáveis trilhos e escaladas, lugares para descansar e tanta estrada que permite encostar e correr pelo deserto.
Sem dúvida um sítio mágico e um “must experience before you die”.
Dica – Se possível e para que abracem a experiência na totalidade, aluguem um airstream como alojamento.


Los Angeles

5 de Janeiro 2021
Duas horas e meia depois chegámos a LA, e o meu coração palpita descontroladamente. Imediatamente procurámos o Hollywood sign, subimos as colinas e apreciámos a cidade aos nossos pés. Explorar era o plano e por isso por cá pernoitámos quatro noites, num pequeno Airbnb em Long Beach. Uma vez que o número de casos covid-19 ativos eram bastante elevados, os restaurantes funcionavam apenas como take-away. Pelo que, o estilo de viagem não se alterou.
Sítios que visitámos em LA: Santa Mónica, Hollywood walk of fame e Hollywood boulevard, The Last Bookstore, Urban Lights (escultura luminosa), Venice Beach (casa do mais famoso skatepark do mundo), Venice Canals, Malibu (El Matador Beach), San Diego (Imperial Beach). Gostava ainda de ter visto o famoso Cecil Hotel de longe, pela sua má reputação, mas fica para uma próxima.
Dica – Fiquei tristemente surpreendida pela pobreza e diferença social na baixa de LA. Os milhares de sem-abrigo que lá habitam, área conhecida como Skid Row, espelham uma realidade problemática e perigosa totalmente incontrolável pela polícia e cidade.

 

 

 

 

 

 

 

De volta a Las Vegas
Terminámos a viagem onde começámos. Full circle!
Decidimos passar uma noite na cidade da loucura, e por $100 (SIM, CEM DÓLLARES!) hospedámo-nos no Cesars Palace (yep, onde foi filmado a ressaca). A pandemia afastou o turismo e por esse motivo foi-nos possível tal proeza. Já diz o lema que “o que acontece em Las Vegas, fica em Las Vegas”, por isso deixo como sugestões tirar a épica fotografia no Las Vegas sign, assistir ao espetáculo fontanário do Bellagio hotel, jogar a roleta (ou o que vos apetecer), caminhar na famosa Las Vegas Strip e mente aberta… Las Vegas trata do resto! 

Outras dicas

Uma roadtrip, especialmente em tempos pandémicos, dificultam uma alimentação saudável. Na verdade, o que mais oferta surge é fastfood. Portanto, preparem snacks saudáveis ou comecem a alargar o cinto (e a carteira).
– A água nem sempre é potável. Abasteçam as vossas garrafas metálicas nos sítios onde pernoitam.
– Esta viagem foi feita de Inverno, é fundamental vestir várias camadas de roupa, luvas quentes, gorros e botas de montanha (impermeáveis).
– Os bilhetes de entrada nos parques podem ser comprados no local ou online. Aceitam dinheiro e multibanco.
– Não houve tempo para visitar o Yosemite, considerem fazê-lo na vossa aventura.
– Em Utah, Arizona e Joshua Tree, atentem na condução à noite pela quantidade de vida selvagem. É prudente conduzir lentamente.
– Desapeguem-se de tudo o que está online, aproveitem a viagem ao máximo, permitam-se explorar e sair até do vosso roteiro.

 

Custos detalhados

OPO – NYC 200€
Teste covid – 100€
Las Vegas – Columbus (2 pessoas, ida e volta + mala de porão) – 390$
Alojamento – 1650$ (através do booking.com e Airbnb)
Knab, Utah – 137$ (2 noites)
Lake Powell, AZ – 68$ (1 noite)
Williams, AZ – 182$ (2 noites)
Joshua Tree – 384$ (3 noites)
Long Beach, California – 516$ (4noites)
Las Vegas – 100$ (1 noite Ceasars)
Aluguer de carro – $662
Gasolina – 246$
Refeições – 870$ (2 pessoas, inclui um jantar requintado de passagem de ano)

Espero que este roteiro vos ajude e inspire!
Completem esta leitura com vídeos e outras fotografias, que partilhei no meu perfil de Instagram @michellecascais

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