Se eu morresse amanhã,
Apanhava o primeiro comboio para Campanhã,
Batia à tua porta de manhã,
A trincar uma maçã e a cheirar a hortelã.
Para a tua íris avelã eu despia o sutiã
E à campeã deixava de ser sã.

Se eu morresse amanhã,
Dir-te-ia que contigo quero casar, em todas as vidas que acordar.
Sem hesitar, duvidar ou pestanejar.
Porque o teu beijo tem jeito de atrasar
Este dia que me começa a escapar.

Moribundos são os meus gritos,
Mas és tu de quem falam nos manuscritos.
O dos finais felizes, o digno das imperatrizes, o sopro nas cicatrizes.
Tu, o amor do para sempre.

Se eu morresse amanhã eras tu quem me traria dos mortos,
Mesmo que j´á decompostos pelos impostos que não pagámos,
pelos humores não ignorados, pelos nossos ramos não regados.
Nós, de peitos rasgados.
De mãos cheias de calos, saídos da guerra derrotados.
Desmembrados. Desencontrados.

Que seja eu a noiva quase defunta, que no véu branco o pó se junta.
Que me lembrem como a moça tonta que o desespero deu coragem,
para lutar pela miragem de um amor de carruagem.

Moribundos são os meus gritos,
Mas és tu aquele que eles esboçam nos manuscritos.
O dos finais felizes, o dos olhos d’amor,
O da magia da neve, o da relva na sola dos pés.

Tu, o amor do para sempre.

Tu, o amor do para sempre.

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