Há neste, preciso e exato, momento, plástico suficiente para todos os seres humanos no planeta. Não é preciso gerar mais plástico, é só usar o que por aí já anda. Por aí… espalhado pelas praias, a flutuar pelos oceanos, esquecido nos parques, comido por gaivotas. Por aí… alojado nos narizes das tartarugas, a servir de cabide aos animais marinhos, a infiltrar as terras e a ajudar a matar o futuro.
Eish, que exagero!
Lá vem a conversa do plástico, outra vez…
Não conversemos sobre plástico então, falemos em ser mais ecológicos.
Trabalho num sítio que dá dó ver como o significado de se estar confortável se baseia na lei do descartável. Dá-me dó porque por mais ecologista que queria ser, nada me vale içar a bandeira ambientalista e pregar sobre sustentabilidade. Não vale a pena porque ninguém a meu redor, a cima ou abaixo também, quer saber. É mito isto de andarmos a matar o planeta, é mito o aquecimento global. E quando esse mito ganha forma nas notícias, em vídeos e fotografias, desvia-se o olhar. Ou até se chora um bocadinho, porque é triste. É de fato triste. Lidarmos com leviandade um assunto que nos toca a todos. TODOS! Se TODOS fizermos alguma coisinha, mínima que seja, já ajuda qualquer coisinha. Podes não mudar o mundo, podemos já estar condenados e não haver volta a dar, no entanto é necessário que o faças. Não louvável… necessário!
Eu mudei algumas coisas na minha vida e todos os dias procuro adotar comportamentos que ajudem o ambiente. E este saquinho de palavras, que agora estás a ler, é uma partilha pessoal do que faço. Desde muito nova que me passava dos carretos com quem decidia atirar lixo para o chão:
“Alguém há de apanhar”
“Temos que dar trabalho a quem limpa as estradas”
Eu devia ter mandado essa gentinha para onde Judas perdeu as botas, enquanto apanhava o deles lixo do chão. Mas não o fiz. Mais tarde comecei a sentir-me culpada pelos banhos de imersão, e deixei de o fazer. Comecei a lavar os dentes no chuveiro e a fechar a torneira sempre que não precisava de água corrente. Seja no duche, a lavar a loiça, na minha casa, na casa dos outros e no trabalho. Eu sei que não sou eu quem paga a água…
Vendi o meu carro, também por motivos de sustentabilidade ambiental. Cansa-me as pernas e a alma caminhar 30 minutos todos os dias para a estação do metro, sair na estação de comboios e ainda fazer uma viagem de uma hora. É ainda mais difícil depois de sair do trabalho. É tão mais rápido conduzir até casa, cantar as músicas da rádio e estacionar à portinha. É tão mais confortável… confortável, mas só para mim.
Comprei uma escova de dentes de bambu mas não reformei a minha de plástico. Dei-lhe uma nova profissão, a de limpa-azulejos e de esfrega-sapatilhas. Compro sabonetes em feiras tradicionais, que vêm embrulhados em papel reciclado. É mais exaustivo ter que esfregar o corpo com um sabonete ao invés de bombear um frasquinho redondinho de plastiquinho. Mudei também, e pausa… porque esta doeu.
Em Janeiro de 2019 deixei de usar pensos higiénicos e tampões. Adotei o copo menstrual. E deixem que vos diga… raios partam!
Li as instruções, pedi opinião e vi vídeos sobre o uso do copo menstrual. E mesmo assim, foi um filme de terror.
Comprei o tamanho 2, o maior por 25€. Que vai durar não sei quantos anos, e é tudo de bom. Comprei o tamanho 2 porque o meu fluxo abundante, de sete dias preenchidos, já me deixou envergonhada algumas vezes.
Inserir o copo menstrual não foi problema, todos os santos ajudaram. Durante o dia senti-me desconfortável, ainda a estranhar a ideia de ter aquele objeto estranho ali. Com medo de a qualquer momento me sujar ou de estar suja e não me aperceber. No entanto, tudo correu bem até higienizar. Demorei 1hora na casa de banho, e não porque estava a ler revistas ou a rolar Instagram. Não conseguia puxar o copo ou retirar aquele objeto que fazia vácuo na minha vagina. (É, desculpem a imagem menos bonita). Uma hora depois, desesperada e de cocaras no tapete da casa de banho, pensei chamar a minha irmã para me ajudar. Antes de o fazer peguei numa pinça e voilà!
Sete meses depois, de uso e abuso do mesmo, já não há pinças ou desesperos. Ainda não é um mar de rosas, não vou aqui mentir, mas o dinheiro que me poupa e o saber que não gasto 30 tampões e uma caixa de pensos por mês… deixa-me feliz. E é como andar de bicicleta, só custa o primeiro tralho.
Entre outras, estas são algumas das coisinhas que eu faço.
Reciclagem é um hábito natural, usar sacolas de pano quando vou às compras também. Reúso os sacos finos de plástico quando vou comprar legumes ou frutas, os mesmos que usei da última vez. Uso uma palhinha de metal quando bebo café ou vinho tinto, para não manchar os dentes. (Também tenho as minhas pancadas).
Já não gosto de balões, porque desmaiados nas ramas das árvores não têm piada ou utilidade alguma.
Não como carne, e quero muito deixar de comer peixe, não compro água plastificada, já não compro roupa todos os meses e não troco, desnecessariamente, os sacos do lixo lá de casa. Limpo e desinfeto os baldes.
Não falei só do plástico.
Não sou a guru ambiental do pedaço.
Há quem faça o mesmo e bem melhor que eu. E se o fazes, obrigada! Por não pensares só em ti, por seres só uma gotinha de água num oceano profundo e mesmo assim tentares fazer diferente.
E mesmo que só não faças diferença… tu e eu já somos dois.

Photo cover by Dana Glick

Author

1 Comment

  1. Ana Lages

    Obrigada mais uma vez por não virares a cara como todo a gente o faz!! Obrigada por falares de algo que parece tão banal mas que faz tanta falta!! Já somos duas 😊